São Paulo, madrugada do dia 22 de julho de 2005
Ao
Exmo Sr. João Paulo Cunha
M.D. Deputado Federal
Caro João Paulo
É crendo e esperando – ao contrário do que poderia faze-lo
em relação a meu ex-aluno, o Sr. Sílvio Pereira – de seguir chamando-o de meu companheiro
João Paulo que resolvi dirigir esta mensagem a Você.
Dirijo-a, contudo, não ao atual deputado federal João Paulo
Cunha; não ao ex-presidente da Câmara dos Deputados de meu país, o então
segundo memebro na escala da eventual sucessão presidencial; não ao ex-deputado
estadual com quem, ambos então candidatos à eleição para deputados federais por
São Paulo, por nosso Partido dos Trabalhadores, dividi parte de meus recursos
de campanha por acreditar mais fundamental e importante para o avanço da sociedade
brasileira a sua eleição do que a minha; não ao dirigente do Diretório Estadual
do PT de São Paulo.
Dirijo-a ao jovem João Paulo Cunha, então líder operário
dirigente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco, a esse jovem João
Paulo o qual, juntamente com Frei Agostinho, com Hélio Beltrão, com Plínio de
Arruda Sampaio e outros companheiros enfrentava o horror do esquadrão da morte
que ceifava vidas acobertado pela ditadura militar que então assolava nosso
país.
Dirijo-a ao jovem João Paulo que lutava pela construção de
um país melhor para a minha e sua – dele – gerações e pelas gerações de nossos
filhos, dos filhos de nossos filhos e das gerações que a eles se sucederão.
Nesse momento no qual assisto – hoje quase que apenas como
espectador – a um novo episódio de horror – certamente diferente – e assim o
espero – do que aquele das décadas de 1960 e 1970 mas tão grave quanto aquele
para a história da sociedade brasileira e no qual o deputado João Paulo Cunha
tornou-se um dos atores principais – não posso deixar – em nome de minha
biografia e em respeito á biografia do jovem líder João Paulo, da biografia de
meus companheiros de geração, das gerações passadas e, sobretudo, das geraçõies
de meus filhos e das futuras – dirigir-me a você para, sem qualquer pretensão,
mas com um antigo afeto, respeito e admiração que talvez você não suspeitasse,
dar-lhe um conselho, reforçando uma sua intenção da qual tomei ontem, pela
imprensa, conhecimento.
Jovem João Paulo. Ontem, após a demonstração – ao que tudo
indica – inequívoca – do envolvimento que o atual deputado federal João Paulo
Cunha teve nesses lamentáveis e aterrorizantes episódios nos quais um grupo –
quantitativamente pequeno mas qualitativamente importante de nosso partido, o
PT – parece ter construído e se enredado, enlameando-se a si mesmo mas deixando
marcas para um coletivo - assim como para o conjunto das forças democráticas e
populares da sociedade brasileira - cuja trajetória histórica não merecia, o
deputado federal João Paulo Cunha esboçou uma atitude – sempre de acordo com a
imprensa – que a meu ver, no presente momento, representaria um ato fundamental
para que se pudesse iniciar, de forma lenta mas profunda, a reversão desses
episódios que mancham a história de nosso partido, das forças democráticas e
populares de nosso país e de sua trajetória, companheiro João Paulo.
Refiro-me ao fato – de que tomei ciência apenas via imprensa
– de sua intenção de renunciar ao mandato de deputado federal dando, assim, uma
demonstração pública de que o jovem companheiro João Paulo ainda continua
presente no atual deputado federal João Paulo.
Pela mesma imprensa, contudo, tomei ciência, também, que o
deputado João Paulo Cunha teria acatado o conselho do Senador José Sarney,
líder do PMDB no Senado e, como tal, um dos articuladores da denominada base
aliada do governo, ex presidente do Senado Federal, ex presidente da República,
ex vice presidente da República, ex presidente do PDS, partido de sustentação
do governo do General João Batista de Figueiredo, ex presidente da ARENA,
partido de sustentação da ditadura militar brasileira, o qual sugeriu que não
seguisse este talvez primeiro impulso do jove João Paulo.
A experiência política e nossa maturidade indicam,
evidentemente, que tais impulsos “juvenis” devem ser muito ponderados.
Contudo, no momento atual, parece-me que não apenas nós,
ainda que calejados pelo tempo e pela história como “velhos combatentes” ou
“velhos guerreiros”, que um certo pedantismo político prefere denominar de
“ancients combatants” , mas principalmente uma significativa maioria de membros
do Partido dos Trabalhadores, de seus eleitores e das forças que representam o
desejo de transformação democrática e profunda da sociedade brasileira, estamos
aguardando algumas – mesmo alguma – atitude política que permita resgatar a
qualidade que as biografias – dentre as quais a sua, João Paulo – certamente
tinham e, espero, continuem tendo.
Nesse momento de profunda tristeza e preocupação política
torna-se fundamental atos de despojamento e de grandeza pessoais para que se
retorne – não evidentemente nos mesmos caminhos passados mas em direção a
caminhos renovados e futuros – o curso das trajetórias biográficas e
historicamente coletivas.
Permitindo-me, portanto, meu companheiro João Paulo Cunha,
discordar das talvez sábias, ponderadas e brilhantes sugestões políticas do
senador José Sarney, creio que valeria uma sua nova reflexão sobre que atitude
pessoal tomar: a de resguardar-se , preparando-se, quiçá, para um futuro
agasalhado de uma velha raposa da política tradicional brasileira ou de
expor-se, hoje, para contribuir, amanhã, na certamente dura, difícil mas
generosa e esperançosa reconstrução dos caminhos em direção a uma sociedade
mais democrática, menos desigual e, sobretudo, sem MEDO DE SER FELIZ.
Com meu afeto fraterno, companheiro João Paulo,
Subscrevo-me,
Cordialmente
Cesar A. Oller do
Nascimento
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