segunda-feira, 17 de agosto de 2015


São Paulo, madrugada do dia 22 de julho de 2005

Ao
Exmo Sr. João Paulo Cunha
M.D. Deputado Federal

Caro João Paulo

É crendo e esperando – ao contrário do que poderia faze-lo em relação a meu ex-aluno, o Sr. Sílvio Pereira – de seguir chamando-o de meu companheiro João Paulo que resolvi dirigir esta mensagem a Você.

Dirijo-a, contudo, não ao atual deputado federal João Paulo Cunha; não ao ex-presidente da Câmara dos Deputados de meu país, o então segundo memebro na escala da eventual sucessão presidencial; não ao ex-deputado estadual com quem, ambos então candidatos à eleição para deputados federais por São Paulo, por nosso Partido dos Trabalhadores, dividi parte de meus recursos de campanha por acreditar mais fundamental e importante para o avanço da sociedade brasileira a sua eleição do que a minha; não ao dirigente do Diretório Estadual do PT de São Paulo.

Dirijo-a ao jovem João Paulo Cunha, então líder operário dirigente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco, a esse jovem João Paulo o qual, juntamente com Frei Agostinho, com Hélio Beltrão, com Plínio de Arruda Sampaio e outros companheiros enfrentava o horror do esquadrão da morte que ceifava vidas acobertado pela ditadura militar que então assolava nosso país.

Dirijo-a ao jovem João Paulo que lutava pela construção de um país melhor para a minha e sua – dele – gerações e pelas gerações de nossos filhos, dos filhos de nossos filhos e das gerações que a eles se sucederão.

Nesse momento no qual assisto – hoje quase que apenas como espectador – a um novo episódio de horror – certamente diferente – e assim o espero – do que aquele das décadas de 1960 e 1970 mas tão grave quanto aquele para a história da sociedade brasileira e no qual o deputado João Paulo Cunha tornou-se um dos atores principais – não posso deixar – em nome de minha biografia e em respeito á biografia do jovem líder João Paulo, da biografia de meus companheiros de geração, das gerações passadas e, sobretudo, das geraçõies de meus filhos e das futuras – dirigir-me a você para, sem qualquer pretensão, mas com um antigo afeto, respeito e admiração que talvez você não suspeitasse, dar-lhe um conselho, reforçando uma sua intenção da qual tomei ontem, pela imprensa, conhecimento.

Jovem João Paulo. Ontem, após a demonstração – ao que tudo indica – inequívoca – do envolvimento que o atual deputado federal João Paulo Cunha teve nesses lamentáveis e aterrorizantes episódios nos quais um grupo – quantitativamente pequeno mas qualitativamente importante de nosso partido, o PT – parece ter construído e se enredado, enlameando-se a si mesmo mas deixando marcas para um coletivo - assim como para o conjunto das forças democráticas e populares da sociedade brasileira - cuja trajetória histórica não merecia, o deputado federal João Paulo Cunha esboçou uma atitude – sempre de acordo com a imprensa – que a meu ver, no presente momento, representaria um ato fundamental para que se pudesse iniciar, de forma lenta mas profunda, a reversão desses episódios que mancham a história de nosso partido, das forças democráticas e populares de nosso país e de sua trajetória,  companheiro João Paulo.

Refiro-me ao fato – de que tomei ciência apenas via imprensa – de sua intenção de renunciar ao mandato de deputado federal dando, assim, uma demonstração pública de que o jovem companheiro João Paulo ainda continua presente no atual deputado federal João Paulo.

Pela mesma imprensa, contudo, tomei ciência, também, que o deputado João Paulo Cunha teria acatado o conselho do Senador José Sarney, líder do PMDB no Senado e, como tal, um dos articuladores da denominada base aliada do governo, ex presidente do Senado Federal, ex presidente da República, ex vice presidente da República, ex presidente do PDS, partido de sustentação do governo do General João Batista de Figueiredo, ex presidente da ARENA, partido de sustentação da ditadura militar brasileira, o qual sugeriu que não seguisse este talvez primeiro impulso do jove João Paulo.

A experiência política e nossa maturidade indicam, evidentemente, que tais impulsos “juvenis” devem ser muito ponderados.

Contudo, no momento atual, parece-me que não apenas nós, ainda que calejados pelo tempo e pela história como “velhos combatentes” ou “velhos guerreiros”, que um certo pedantismo político prefere denominar de “ancients combatants” , mas principalmente uma significativa maioria de membros do Partido dos Trabalhadores, de seus eleitores e das forças que representam o desejo de transformação democrática e profunda da sociedade brasileira, estamos aguardando algumas – mesmo alguma – atitude política que permita resgatar a qualidade que as biografias – dentre as quais a sua, João Paulo – certamente tinham e, espero, continuem tendo.

Nesse momento de profunda tristeza e preocupação política torna-se fundamental atos de despojamento e de grandeza pessoais para que se retorne – não evidentemente nos mesmos caminhos passados mas em direção a caminhos renovados e futuros – o curso das trajetórias biográficas e historicamente coletivas.

Permitindo-me, portanto, meu companheiro João Paulo Cunha, discordar das talvez sábias, ponderadas e brilhantes sugestões políticas do senador José Sarney, creio que valeria uma sua nova reflexão sobre que atitude pessoal tomar: a de resguardar-se , preparando-se, quiçá, para um futuro agasalhado de uma velha raposa da política tradicional brasileira ou de expor-se, hoje, para contribuir, amanhã, na certamente dura, difícil mas generosa e esperançosa reconstrução dos caminhos em direção a uma sociedade mais democrática, menos desigual e, sobretudo, sem MEDO DE SER FELIZ.

Com meu afeto fraterno, companheiro João Paulo,

Subscrevo-me,
Cordialmente


Cesar A. Oller do  Nascimento

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