UM
CONTO FICSTÓRICO FOLHETINESCO
Francisco
Carolus Fuentes Fernandes (FC2F)
São
Paulo – Salvador – São Paulo
Julho
de 2015
Terminado
em 12 de agosto de 2015
Preâmbulo
aos leitores
O
título do presente conto encerra algumas reflexões sobre a História da
Literatura. O período histórico no qual ocorrem as ações corresponde a um curto
período de 12 horas, referenciando-se aos dias 30 de abril, 1 e 2 de maio. O
ano é o de 2150, no século XXII, portanto, 135 anos após o ano de 2015, no qual
nos encontramos.
O
enredo do conto passa por diversos personagens que se localizam em várias
partes do mundo: em Beijing na Ásia; em Brasília e em Lima, na América do Sul;
em Washington, na América do Norte e em Roma, na Europa.
Na
ficção do ano de 2150, o conto gostaria de assemelhar-se aos folhetins de
Science Fiction, desenvolvidos na primeira metade do século XX, como Flash
Gordon, desenhado por Alex Raymond, ou
nos romances de Ponson du Terrail e seu personagem, Rocambole, que dá origem ao
termo “rocambolesco”.
Nas
reflexões e lembranças dos vários personagens do conto, navega-se por fatos
históricos, não ficcionais, portanto, ocorridos nos séculos III a. C. e no
período Depois de Cristo, nos séculos XIX, XX e XXI. Esta mescla de história e
ficção rebate-nos aos românticos do
século XIX e a alguns autores do século XX – Walter Scott, Alexandre Herculano,
Alexandre Dumas, Honoré de Balzac, José de Alencar, Gabriel Garcia Marques,
Érico Veríssimo, e tantos outros, que fizeram de suas obras verdadeiros
folhetins que combinam ficção e História.
Não
pretendo, em momento algum, comparar este nosso curto conto com o escrito de
qualquer um destes mestres da literatura universal. O que pretendo é apenas
fazer este pequeno preâmbulo para que o leitor resolva ler as poucas páginas
que se seguem ou abandonar, de imediato, essa leitura.
Tenho
que deixar marcado um agradecimento a Lucas Oller o qual observou a importância
da Bacia Amazônica como uma das, senão a, maior reserva de água doce do
planeta.
Há
muitos anos atrás li um pequeno escrito de um escritor nascido nos anos 40 do
século passado sobre a relação entre avanços tecnológicos e retrocessos
políticos e sociais no mundo, tomando como exemplo o já aqui citado Flash
Gordon, desenhado por Alex Raymond, que descreve um mundo estelar extremamente
avançado tecnologicamente mas governado por Imperadores, Condes, Duques, Reinos
e Impérios, texto este que inspirou o presente.
Uma última
observação ao leitor: caso algum / a dos / das personagens a serem aqui
descritos / as corresponderem a alguém real, foi essa mesma a vontade do autor.
FC2F - o
autor
1. BEIJING – No
aguardo de instalar-se o Império Celestial
Naquela
quase madrugada de 30 de abril de 2150, Ho Chin Piao, o todo poderoso Ministro
da Paz Celestial, acordou tomado por uma felicidade que, provavelmente, nunca
sentira em seus 65 anos de vida.
Sua
felicidade e alegria era totalmente compreensível: afinal de contas, desde seus
20 anos, preparara-se para aquele dia, para aquele momento.
Desde que
saíra graduado na Escola de Diplomacia e Relações Internacionais do Império
Celestial e engajara-se nos preparativos para fazer de seu país, de seu povo, o
país e o povo mais importante do mundo, seu objetivo de vida estava traçado e
delineado.
Por esse
objetivo abandonara, totalmente, uma vida pessoal: nenhum amor, nenhuma paixão,
nenhum filho, nenhum amigo. Todos com quem convivia – conhecia muitos –
referenciavam-se e existiam apenas e
exclusivamente em função desse grande objetivo que hoje, na reunião do Comitê
Central, às três horas da tarde, seria alcançado.
A totalidade
do Partido e do Governo aceitaria que seu Ministério colocasse em ação a
Operação Nuvens de Gafanhotos de Jade, estratégia esta pacientemente tecida até
a reunião da tarde daquele 30 de abril.
Esta
estratégia foi, de fato, iniciada a partir de 247 a.C. com a ascensão, aos 13
anos de idade, de Ying Jen ao trono do estado ocidental de Chin e sua tomada de
poder, aos 34 anos, em 213 a.C., tornando-se Imperador da China, com o nome de
Chin Shi Huang Di, qual seja “ o primeiro Deus divino de Chin” (www.google.com.br/#q=primeiro+imperador+da+china).
Lembrava o
Ministro da divisão de ações entre o Imperador e seu Primeiro Ministro, Li Si,
para consolidarem os Sete Reinos existentes no território chinês em um Império
Unificado: o imperador cuidava da guerra e da defesa dos territórios
conquistados, enquanto Li Si cuidava da política e da implantação das ideias de
uma China forte e una.
Enquanto
Chin Shi Huang Di derrotava, pela guerra, seus inimigos internos e cuidava da
construção da Grande Muralha da China, Li Si controlava “corações e mentes”
tentando expurgar e destruir a história da China até então, queimando
bibliotecas inteiras de escrituras em bambu, sobretudo dos grandes filósofos
dos diversos reinos do território chinês, conservando apenas os escritos
referentes à medicina e a práticas agrícolas (www.google.com.br/#q=primeiro+imperador+da+china).
Como toda estratégia de longo prazo, inteligente e bem desenhada, sofrera, ao
longo dos anos, séculos e milênios uma imensidão de idas e vindas, de sucessos
e fracassos, mas sem nunca perder seus objetivos centrais, o de garantir as
condições para que o Império Celestial Chinês fizesse com que o conjunto do
globo terrestre fosse colocado a seu serviço.
Um dos pontos essenciais que estava
possibilitando desencadear a Operação Nuvens de Gafanhotos de Jade foi a
inteligente política, durante a década de 1970, do presidente Mao Zedong que via, no aumento
populacional, um caminho para o engrandecimento do país, tanto econômica quanto
socialmente. Seus sucessores inverteram essa política a partir do final dessa
década até o início do século XXI.
Felizmente, o presidente eleito no ano de
2013, Xi Jinping suspende, a partir de
sua posse, a Lei de Natalidade implantada no final da década de 1970, pela qual
cada casal chinês poderia ter apenas um filho. Revogada a lei, passou-se a
permitir que os casais tivessem dois filhos, o que garantiu à China, nesse
momento, de contar com uma população de 3 bilhões e, portanto, armar um
Exército de 500.000.000 de militares que garantiriam o êxito da Operação Nuvens
de Gafanhotos de Jade.
Refletia, ainda Ho Chin Piao, nesse seu
feliz amanhecer, que seria ele o grande condottiere, o principal responsável
por colocar toda essa imensa massa de centenas de milhões de mulheres e homens
do Exército Vermelho preparados para ocuparem, pelo bem ou pelo mal, o conjunto
dos territórios do Planeta Terra.
Só assim, pensava o Ministro, nós,
terráqueos, teríamos condições de avançarmos e ocuparmos os demais planetas do
sistema solar e, após sua ocupação, começarmos a focar outros sistemas
estelares. A partir disto, finalmente, a Paz Celestial, o Império da Paz
Celestial estaria instalado no Planeta Terra e estaria pronto para instalar-se
no Sistema Solar.
Nesse momento, contudo, deveria
preocupar-se, enquanto aguardava as decisões do Comitê Central, de cuja reunião
participaria às três da tarde no Salão do Pavão Imperial, dentro da Cidade
Proibida, em Beijing, que voltara, nos primeiros anos deste século XXII, a ser
a sede do governo do Império Celestial da China, com o tom da conversa a
distância que teria com o representante da República Andina e Amazônica do
Peru.
O primeiro alvo da Operação Nuvens de
Gafanhotos de Jade era o de garantir o controle, por parte do Império
Celestial, das maiores reservas de água doce e de terras de produção de
alimentos e de minerais do mundo, concentradas no território do Brasil.
Portanto, o primeiro passo dessa Operação visava, via o litoral peruano,
adentrar no território brasileiro por meio da ferrovia Bi - oceânica construída
e operada por empresas e pessoal chinês.
2. BRASÍLIA – Preparando-se para ter seu
território ocupado
A manhã de 30 de abril de 2150 era,
certamente, a pior dos 53 anos de Sílvia Luísa Baena de Carvalho, a Ministra
das Relações Exteriores e Defesa da República Parlamentar Democrática Popular
do Brasil.
Todas as informações vindas de diversas
embaixadas brasileiras da Ásia, da Austrália, da Europa, da África e da América
do Norte pareciam confirmar a terrível notícia: em Beijing, o Comitê Central do
Partido Comunista do Império Celestial da China deveria tomar a decisão, às
três horas da tarde, de iniciar sua invasão mundial, em diversas frentes,
mobilizando e deslocando um exército nunca antes visto no Planeta: quinhentos
milhões de mulheres e homens preparados para ocuparem a Terra em várias
frentes, continentes e direções: na Rússia Asiática e Européia e em todos os
países do continentes europeu; em todos os países asiáticos direta e
indiretamente limítrofes da China, Índia, Afeganistão, Paquistão, Oriente Médio
e Oriente Próximo; a Austrália, Nova Zelândia e Polinésia; África Oriental e
Ocidental.
Mas o mais preocupante e complicado para a
Ministra Sílvia Luísa é que o primeiro país a ser atacado e ocupado pelas
tropas dessa Operação seria exatamente o Brasil, por sua condição estratégica
de concentras Água doce na Bacia Amazônica e nos seus aquíferos subterrâneos
ainda não poluídos, de concentrar minerais estratégicos como ferro, bauxita e
outros e por sua posição de Celeiro do mundo.
Para que a Operação Nuvens de Gafanhotos de
Jade fosse bem sucedida, o Império Celestial precisaria garantir o controle do
Brasil, de forma a garantir o controle sobre esses elementos fundamentais na
logística de sua Operação militar pelo mundo afora.
Ocupado o Brasil, era simples ocupar o
restante da América do Sul, a América Central e o México. Ocupada a Muralha do
Império Norte Americano, representado pelo cinturão de países localizados na
Ásia e na Oceania, todos no Oceano Pacífico, o segundo grande objetivo
estratégico da Operação era estrangular o Império Norte Americano, cercando-o
por todos os lados.
Essa estratégia, bem ao gosto da elite
chinesa, da casta dos mandarins que há mais de três milênios governavam e
dirigiam, direta ou indiretamente, o povo chinês, não era mais um jogo de
IChing ou de War, mas uma realidade que estava para ser desencadeada em poucas
horas.
A terceira frota do Império Celestial, como
seus 250 porta aviões, capazes de transportarem centenas de milhares de
soldados e oficiais da infantaria e quinhentos aviões, estariam prontos a
cruzar o Pacífico na latitude aproximada de 8º sul,
desembarcando em território peruano, embarcando nas imensas composições de
trens da Ferrovia Bi –Oceânica, na direção da Amazônia e do Centro Oeste
brasileiros, o primeiro e, naquele momento, principal objetivo estratégico da
Operação Nuvens de Gafanhotos de Jade.
Ao refletir sobre a situação, mais uma vez
a Ministra Baena de Carvalho lembrou, de suas aulas de História sobre o período
da então República Federativa do Brasil do triste governo da primeira mulher
presidenta da República, Dilma Rousseff a qual, sucedendo a um dos mais
importantes presidentes brasileiros, conhecido como Presidente Lula, conseguiu,
por erros sucessivos, tornar o Brasil refém tanto dos Estados Unidos quanto da
China, posição esta que o país não mais conseguiu superar.
Contrariando a tradição histórica da
Política Externa Brasileira, o governo Dilma Rousseff abandonou a inteligente
linha de neutralidade e o jogo sutil da diplomacia brasileira de ora reforçar
uma, ora outra das potências mundiais que surgiam no contexto do poder mundial.
Assim fora no período entre a Primeira e a
Segunda Guerras Mundiais, na primeira metade do século XX, onde o Ditador
Getúlio Vargas jogava com os Aliados, Estados Unidos à frente e com o Eixo,
Alemanha na vanguarda, tentando – e obtendo – vantagens para o País.
Mesmo no período do regime de ditadura
militar, na segunda metade desse mesmo século, no qual a política dos generais
presidentes era francamente americanófila, havia momentos no qual o Brasil
posicionava-se contra os interesses do Império Norte Americano, como no
posicionamento do Brasil em relação à Política Nuclear, apoiando-se na
Alemanha, ou na política de descolonização da África Portuguesa, apoiando e
sendo o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, Moçambique e das
demais colônias portuguesas.
No início do século XXI, no século passado,
portanto, o primeiro operário a tornar-se presidente da República do Brasil, o
Presidente Lula, assumiu, em seus dois mandatos, políticas francamente
independentes quer em relação ao Império Norte Americano. Articulou-se com a
Rússia, China, Índia e África do Sul, constituindo um novo bloco de poder
mundial – o BRICS – apoiando as políticas anti – colonialistas e anti – imperialistas
nos países da América do Sul, enfrentando economicamente os interesses das
grandes corporações norte americanas nas Américas, seja na do Sul, na Central e
na do Norte, inclusive dentro do território do próprio Império Norte Americano.
Imperdoável para o Império, contudo, a
política desse Presidente assume a ocupação e a exploração do petróleo do Pré –
Sal nas águas territoriais brasileiras, cujos limites já tinham sido expandidos
durante o governo de um dos generais presidentes.
Coloca a principal empresa estatal
brasileira, a PETROBRÁS, a explorar essas bacias petrolíferas no Atlântico Sul,
nas costas do Brasil, o que levará a um processo de enfrentamento econômico e
político do Império contra os interesses nacionais brasileiros.
Por um erro estratégico da própria política
desse Presidente, reforçado pelas ações
voláteis e pouco estratégicas de sua sucessora, o Brasil, na segunda década
desse século passado, acaba perdendo tanto sua política tradicional de navegar
entre as potências para efetuar políticas econômicas internas subordinadas aos
capitais internacionais, particularmente o financeiro, e aos interesses das
duas grandes potências em conflito declarado, dentre as quais o Império
Celestial parece estar, hoje – 30 de abril de 2150 – garantindo sua
preponderância.
Certamente amanhã, dia 1º de maio, não
deverá apresentar um futuro de “céu de brigadeiro”, nem para o mundo em geral,
nem para o povo brasileiro em particular...
3. WASHINGTON – Preparando-se para o
enfrentamento
Washington começa a ter um clima bastante
agradável no início da primavera. Este último dia do mês de abril de 2150 não
apresentava um clima muito diferente daquele de anos passados.
Esta manhã, contudo, não era nada agradável
para Elizabeth Victoria McDonald Hooper III, a poderosa Secretária de Estado do
Governo da Presidente Republicana ligada ao Tea Party, Margareth Clarence
Stuart.
Todas as notícias das embaixadas do Império
Norte Americano na Ásia, África, Europa, Oceania e América do Sul sinalizavam que
a reunião do Comitê Central do Partido Comunista do Império Celestial da China,
em Beijing, a ser iniciada às três horas da tarde, horário de Beijing, do dia
seguinte, 1º de maio, iria ordenar o
início da Operação Nuvens de Gafanhotos de Jade, colocando o mundo em Estado de
Guerra e sendo ocupado pelas centenas de milhões de militares do Exército
Vermelho do Império Celestial.
Beth III, como era informalmente conhecida,
sabia que essa ofensiva tinha dois objetivos centrais
– ocupar o território brasileiro, para
garantir o domínio do Império Celestial Chinês sobre a Bacia Amazônica
(principal reserva de água doce do planeta) e sobre os territórios do Cerrado
do Brasil, em sua área Centro-Oeste e das terras de sua região sudeste,
celeiros de grão do mundo e
- cercar completamente, por todos os lados,
do Atlântico ao Pacífico, o território do Império Norte Americano.
Em suas reflexões, Beth III rememorava os
acontecimentos históricos ocorridos na segunda metade do século XX, quando um
de seus mais famosos antecessores, o Secretário de Estado scholar e intelectual
de origem alemã-judaica, Henry Kissinger, iniciara a política de aproximação
com a República Popular da China, no período do também – como hoje, Presidente
dos Estados Unidos da América ligado ao Partido Republicano, que fora
personagem de um grande escândalo na década de 1970, que ficou conhecido
historicamente como o escândalo de
Watergate, que o levou a renunciar ao mandato antes de votarem seu
“impeachment”, Richard Nixon.
Até que ponto a política traçada por
Kissinger e o Grande Timoneiro da Revolução Chinesa, Mao Zedong e seu Primeiro
Ministro Zhou En Lai - que fora Ministro dos Negócios Estrangeiros da República
Popular Chinesa entre 1949, quando da vitória da Revolução Comunista, e 1958 - foi
positiva para o futuro dos Estados Unidos da América?
Certamente essa política foi uma das
principais responsáveis pela ampliação do poder imperial norte americano no
mundo na segunda metade do século XX, eliminando não somente o poder da União Soviética
mas a própria União Soviética.
A partir do início do século XXI, contudo,
o Império Norte Americano passa a ter que confrontar-se com novos atores na
ordem mundial que começam a por em cheque a Pax Norte Americana, dentre os
quais a então República Popular da China começa a tornar-se o principal e mais
perigoso adversário.
No início do século XXI, até países
historicamente organizados dentro dos preceitos da Doutrina Monroe – implantada
no início do século XIX – a qual rezava “A América para os Americanos” a qual,
de fato, correspondia ao princípio da “América para os Americanos – do Norte”,
rebelam-se contra tal preceito e passam
a enfrentar o Império Norte Americano.
E Beth III não pensava em Cuba – a qual sem
dúvida incomodou o Império Norte Americano por décadas entre 1959 e 2014 – mas
sobretudo no Brasil, que na primeira década do século XXI resolvera colocar –
na visão dos governantes dos Estados Unidos da América à época – suas
“manguinhas de fora” durante o mandato presidencial de um membro da senzala
brasileira.
Esse presidente resolveu enfrentar ideias e
interesses, menos econômicos e mais políticos e ideológicos da elite brasileira, os donos da – na
expressão de um intelectual brasileiro – Casa Grande e que assumira o papel de
um estadista não apenas brasileiro mas defensor das nações dominada no mundo.
Lembrava-se Beth III que, quando estudante,
três décadas antes, resolvera entender o papel desse personagem que,
rememorava, tinha um apelido que, na língua nativa do Brasil, correspondia a um
molusco marítimo, Polvo, Lula, Vieira, não tinha muita certeza.
Lembrou-se que esse líder operário, que
fundara um Partido que foi denominado dos Trabalhadores, no final de uma
ditadura militar criada – com pleno apoio do governo norte-americano, no início
da década de 1960, à época do governo Lyndon Johnson, o qual, como vice-
presidente, assumiu o posto de John Kennedy, presidente ligado ao Partido
Democrático assim como Johnson, após seu assassinato em 1963.
Beth III lembrou-se, também, em suas leituras
sobre aquela época e seus acontecimentos no Brasil, do papel que o então
embaixador dos Estados Unidos da América desempenhara na articulação e suporte
político e financeiro do golpe militar no Brasil, iniciado, se não lhe falhava
a memória de suas leituras, em 1964, 1965.
De suas aulas sobre a História Brasileira,
Beth III lembrou-se que esse presidente operário era, muitas vezes, comparado
com outro operário que se transformara em presidente da Polônia no final do
século XX e que, com o apoio de um papa polonês contribuíra para a derroa dcada
da União Soviética.
Suas lembranças, porém, eram a de que o
Presidente operário brasileiro com nome de molusco era um social democrata
nacionalista que desenvolvera uma política externa completamente independente
das orientações dos governos norte americanos, seja de presidentes do Partido
Republicano, como George Bush – em cujo mandato ocorre o episódio das Torres
Gêmeas em New York e a Guerra do Iraque – seja dos governos do democrata Barack
Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Sua política externa e sua ação social e
econômica interna o tinha elevado, ela lembrava-se bem das leituras que fizera,
a um dos principais estadistas mundiais na primeira década do século XXI.
Beth III lembrava, também, que a sucessora
desse líder, uma ex guerrilheira que optara, nos anos das ditadura militar no
Brasil pela luta armada, assume a presidência sem ter a liderança e a
capacidade política de seu antecessor.
No decorrer tanto dos dois mandatos do
Presidente operário quanto, sobretudo,
nos mandatos de sua sucessora, ocorreram vários escândalos e problemas
de malversação de recursos públicos, seja para garantir e manter no poder uma
grande aliança partidária em torno do Partido criado pelo Presidente operário,
seja por crime comum de corrupção, envolvendo sobretudo grande empresas de
capital brasileiro ligadas à Construção Civil Pesada, importantes lideranças
políticas seja do governo, seja da oposição e, em particular, uma grande
empresa estatal brasileira ligada aos negócios do petróleo.
Esses fatos, articulados e investigados por
membros do Judiciários ligados ao principal partido de oposição no Brasil e a
um juiz com ligações pessoais ao FBI norte americano, como teria sido aventado
à época desses acontecimentos, levaram o Brasil a uma crise política que,
rapidamente, transformou-se em uma crise econômica que, em um prazo muito
curto, fez o Páis retroceder fortemente em sua posição de destaque no cenário
Mundial.
Beth III abandonou suas lembranças de
estudante universitária e voltou suas reflexões ao dia de hoje no qual todas as
informações levavam a crer que a Operação Nuvens de Gafanhotos de Jade seria
iniciada.
Naturalmente Beth III tinha total
consciência que, em História, o SE não existe. Em reflexões sobre ela, contudo,
pensar fatos e acontecimentos a partir desse advérbio condicional é um bom
exercício para refletir sobre ações e estratégias futuras. Desse modo, a
Secretária de Estado iniciou, em suas reflexões, a colocar um variado número de
SES.
Por exemplo, SE os Estados Unidos da
América, ao invés de colocar-se em confronto com os governos do líder operário
de nome de molusco e de sua sucessora, realizando escutas secretas, atacando a
política de soberania brasileira sobre a área do Pré-Sal e seu petróleo, de
colocar sua força policial interna – o FBI – a serviço de membros do Judiciário
Brasileiro contra membros dos Poderes Executivo e Legislativo, de colocar em
cheque grandes empresas de capital brasileiro que se expandiram por vários
países e continentes, mundo afora, não poderia ter, hoje, quando os chineses
atacam, um aliado que contribuiria para que a balança do poder mundial pesasse
a favor do Império Celestial da China?
SE a política norte americana não se
posicionasse contra a União Soviética, tendo-a como seu Inimigo principal,
aproximando-se da República Popular da China a partir de 1970, sem levar em
conta que a massa populacional chinesa representa um poder quantitativo
assustador para qualquer outro poder nacional do Planeta, a situação deste 30
de abril de 2150 não poderia ser diferente?
SE os Estados Unidos da América não
pretendessem garantir seu poder financeiro, não permitindo que outras moedas,
senão o dólar, tivesse o poder de circulação e de reserva de valor monetário no
mundo, os problemas que a chamada zona do Euro não seria menos grave do que foi
permanentemente neste século e meio?
SE os Estados Unidos da América não
resolvesse manter sua postura de considerar as Américas, em particular as
Américas do Sul e Central como seu quintal (lembrou novamente da Doutrina
Monroe do século XIX) no decorrer da primeira metade do século XXI,
particularmente impedindo que o Brasil avançasse na direção de tornar-se uma
nação de importância mundial - fazendo o que o Império Celestial da China fizera
com a Índia, na Ásia, e com a África do Sul, na África – mas mantendo, com
auxílio de parcela significativa da classe dominante brasileira seu papel de satélite
dos Estados Unidos da América, o dia de hoje não poderia e deveria ser muito
diferente?
Novamente nos cenários dos “SES” os Estados
Unidos da América não tivessem criado problemas em relação à expansão do Brasil
na exploração das reservas petrolíferas do PRÉ – SAL, permitindo ao Estado brasileiro acumular, no decurso da
primeira metade do século XXI, recursos para desenvolver, de acordo com seus
interesses nacionais, sua infra -estrutura logística, educacional e social,
hoje não estaríamos em uma situação diversa daquela que estaremos nos
defrontando?
Caso esses SES ocorressem, talvez os
governos brasileiros da segunda década do século XXI não fechassem acordos que
permitiriam, aos interesses chineses, construírem uma ferrovia de ligação
Pacífico – Atlântico com o traçado que acabou sendo implantado.
Essa ferrovia, iniciada no litoral do Peru,
corta a Cordilheira Andina Peruana, atravessando toda a Amazônia peruana no
sentido oeste – leste, alcançando a Amazônia brasileira na altura do norte do
estado do Acre e cortando todo o cerrado do Brasil, em seus estados do Centro
Oeste, até atravessar sua região Sudeste e atingir os portos do Oceano
Atlântico.
Por esse traçado, a República Popular da
China atingia a Bacia Amazônica - a maior reserva de água doce do planeta Terra
– e o Cerrado – o mais importante território de produção de grãos do mundo, por
isso denominado seu Celeiro. A utilização dessa ferrovia garantia, tanto na
direção do Pacífico, quanto na direção do Atlântico, o escoamento dessa
produção e o transporte de água doce particularmente para a China, outros
países asiáticos e para os países africanos.
Ao mesmo tempo, esse acordo tri - nacional
selado entre Brasil – China e Peru, poderia abrir, à sanha de conquista que a milenar e quase
eterna paciência chinesa apresentava, os
territórios dos dois países sul americanos signatários desse tratado e, a
partir deles, toda a América do Sul e a América Central.
Caso as informações sobre a resolução do
Comitê Central do Partido Comunista Chinês em ordenar o desencadeamento, na
tarde de 1º de maio, da Operação Nuvens
de Gafanhotos de Jade fossem verídicas, o Império Celestial da China começaria
a cumprir seus dois grandes objetivos estratégicos: ocupar o território
brasileiro e iniciar o cerco em relação ao território do Império Norte
Americano.
Beth III parou suas lembranças sobre os
eventos históricos da primeira metade do século XXI e reassumiu a postura
pragmática que sempre marcara as ações diplomáticas norte americanas e pediu à
sua secretária que a colocasse em comunicação, nessa ordem, com o Ministro da
Paz Celestial do Império Celestial Chinês, com o Ministro das Forças Armadas
Peruano e com a Ministra de Relações Exteriores e da Defesa do Brasil.
A depender das respostas que obtivesse – se
as obtivesse – demandaria fazer uma conferência a quatro vozes para que
discutissem o momento mais do que delicado para o presente e o futuro imediato
do mundo, que se estava configurando naquele dia 1º de maio primaveril para os
Impérios da China e dos Estados Unidos da América e outonal para o Peru e o
Brasil...
4. LIMA – Querendo entender as consequências
daquele dia para seu País
Assim como Ho Chin Piao, Silvia Luísa Baena
de Carvalho e Elizabeth Mc Donald Hooper III, o Almirante Pablo Atahualpa de
Villasverdes Soza, Ministro das Forças Armadas da República Andina e Amazônica
do Peru acabara de acordar. E acordara assustado e em pânico pelo pesadelo que,
reiteradas vezes, lhe atacara durante toda a noite.
Dessa noite de pesadelos o que mais lhe
vinha à consciência era a cena de milhares de vagões de trens ocupados por
centenas de milhares de mulheres e homens do Exército Vermelho do Império
Celestial Chinês cruzando, a uma velocidade de centenas de quilômetros por
hora, o território do Altiplano, da Cordilheira Andina e da Amazônia Peruana em
direção à fronteira entre Peru, Bolívia e Brasil, internando-se na Amazônia
Brasileira e em todo o território do Cerrado no Centro Oeste daquela nação –
até então – amiga e aliada – na direção de sua costa Atlântica.
No dia anterior, 29 de abril, passara o
tempo todo tentando entender as explicações do Embaixador do Império Celestial
da China, Qi Zen Lai, entremeadas pelas conferências com Ho Chin Piao, o todo
poderoso Ministro da Paz Celestial chinês sobre a Operação Nuvens de Gafanhotos
de Jade que a principal aliada do Estado Peruano estaria desencadeando na tarde
do dia seguinte, 1º de maio.
As explicações foram entendidas, o que não
significou que o Almirante Pablo tenha ficado muito satisfeito com elas, pois
naquele momento as ações militares estariam direcionadas contra o território
brasileiro, ações estas, contudo, que passavam diretamente pelo território
peruano, o que não era nada alvissareiro.
O Ministro Almirante lembrava-se de suas
aulas de História das Guerras, de 30 anos atrás, com seus então 18 anos de
idade, as quais sempre demonstraram que territórios de passagem de tropas de
outras nações acabavam por transformar-se em territórios tão ocupados quanto os
das nações objetos principais da ocupação.
Assim ocorrera com a Polônia nas guerras
napoleônicas no século XIX contra o Império Czarista da Rússia, com a Bélgica e
Holanda no ataque do Exército Alemão Nazista contra a França, na primeira
metade do século XX, entre outras tantas que lhe vinham à memória.
Estados fortes, populosos e com tradição
guerreira como eram China e Estados Unidos da América podem, rapidamente,
transformarem-se de aliados em inimigos mortais para as nações mais fracas,
menos populosas e com tradição guerreira próxima a zero.
Naquele momento, a única ação que o
Almirante Pablo podia fazer, e que se preparava para fazê-la, era encaminhar,
via um de seus oficiais de gabinete de total confiança, um relato sucinto, a
ser transmitido de viva voz, das conversas que tivera no dia anterior com os
chineses, para seu velho amigo, o Coronel José Antônio de Almeida, adido militar
da Embaixada brasileira em Lima, para que este transmitisse o teor da conversa
para a Ministra Baena de Carvalho, sobretudo lembrando-a dos acordos bi -
laterais secretos assinados em 2035 entre Brasil e Peru, época na qual
implantou-se a Ferrovia Bi Oceânica, construída e operada por investidores e
operadores chineses.
Além disso, aguardar os acontecimentos da
tarde do dia 1º de maio, no horário de Beijing.
5. VATICANO – Até onde vai o poder da palavra
contra o poder das armas em conjunturas críticas
A insônia que permanente e persistentemente
acompanhara a trajetória de vida nos últimos 70 anos dos 75 anos de idade do
quarto Papa Africano, eleito por seus pares para ocupar o trono de São Pedro no
Vaticano, o então Cardeal Domenico Macango, de Adis Abeba, Papa Sabá I, não
fora nessa quase madrugada do dia 30 de abril de 2150 muito diferente dos
demais dias e noites de sua vida.
A diferença centrava-se no teor das
informações que, de todas as partes do mundo afluíam ao Vaticano, referentes ao
iminente desencadeamento, por parte do governo do Império Celestial da China,
da movimentação de um exército de quinhentos milhões de mulheres e homens,
chinesas e chineses, visando ocupar territórios em todos os continentes, tendo
dois principais objetivos imediatos: garantir a ocupação do Brasil, onde se
localizavam as áreas de maior concentração de água doce e de produção de
cereais de nosso planeta Terra e cercar, visando isolar completamente, o
território do Império Norte Americano em relação ao resto do Mundo.
Como todo o bom Príncipe da Santa Madre
Igreja Apostólica Romana, a inteligência do Cardeal, agora Papa Sabá I, não lhe
permitia crer em uma divindade superior qualquer que houvesse criado o Universo
e a vida, mas sim na capacidade da Humanidade em criar tal divindade.
Ateu, portanto, Sabá I, contudo, não
conseguia entender como que essa Humanidade, capaz de gerar um fantástico mundo
na Terra, criando, como a partir da Judéia, um Reino de Deus e a parir da
China, um Império Celestial, não conseguira atingir a plenitude da sua
sobrevivência básica ou de sua própria Humanidade.
Seguidor dos preceitos introduzidos a
partir da Carta Encíclica “Laudato Si” pelo Papado de quase um século e meio
antes, do primeiro Papa do Continente Americano, o argentino Cardeal Bergoglio, de Buenos Aires, jesuíta
que adotara o nome de Papa Francisco I, para Sabá I era difícil manter sua fé
na Humanidade.
Ainda que acreditasse, e seguia
acreditando, que as novas gerações eram sempre melhores do que as anteriores e,
se por acaso, a Humanidade conseguisse eliminar a si mesma e ao Planeta Terra,
seríamos substituídos por espécies melhores e mais sábias, assistir às
permanentes atrocidades que membros de
nossa espécie faziam a nós mesmos, a outras espécies e à Natureza em geral
doía-lhe na consciência e em seu coração.
Nesse dia 30 de abril, ter conhecimento da
mobilização bélica que objetivava ocupar o território do Planeta por parte do
Império Celestial da China o fez baquear física e psiquicamente, lembrando-se
de um velho repto que um dos mais ferozes homens de Estado do século XX, Joseph
Stalin, o czar do Império Soviético, fizera ao então Papa reinante, o
aristocrático e filo fascista Cardeal Príncipe Eugênio Pacelli, Papa Pio XII,
ao discutir o Poder do Vaticano, perguntado: “Quantas divisões (militares) tem
o Papa?”.
Quando o poder das armas apresenta-se em
sua plenitude, em situações críticas como f aquela que estava por ocorrer em
poucas horas, qual o valor das palavras, do bom senso, da temperança?
Sabá I sentia-se amordaçado, paralisado,
cansado, sem forças físicas ou mentais.
Mas, rapidamente, retomou sua força vital e
chamando seu secretário particular pediu que realizasse uma conferência
eletrônica com os chefes de Estado do Império Celestial da China, do Império
dos Estados Unidos da América, da República Parlamentar Democrática Popular do
Brasil e da República Andina e Amazônica do Peru, naquele momento as nações
mais diretamente envolvidas no que poderia ser a primeira grande onda de ataque
da Operação Nuvens de Gafanhotos de Jade, a ser desencadeada, por ordem do
Comitê Central do Partido Comunista Chinês, a partir da travessia do território
peruano para ocupar o território brasileiro e iniciar o cerco contra o
território do Império Norte Americano.
Sabá I resolvera, empiricamente, mais uma
vez dentre muitas, testar o poder da palavra do Vaticano contra o poder das
prepotentes e arrogantes divisões bélicas do repto stalinista.
6. BRASÍLIA – Pesquisando arquivos históricos
de documentos secretos
Após receber as informações do adido
militar da Embaixada do Brasil em Lima, o Coronel Almeida, a Ministra Baena de
Carvalho foi em busca dos mais que centenários tratados que consolidavam o
projeto de construção da Ferrovia Bi Oceânica entre os portos Peruanos do
Pacífico e os portos Brasileiros do
Atlântico, o caminho escolhido pelos estrategistas da então República
Popular da China nas primeiras décadas do século XXI.
Era por ela que o Império Celestial Chinês
estava na iminência de desencadear a Operação Nuvens de Gafanhotos de Jade,
movimentando um contingente de 75 milhões de chinesas e chineses, membros do
Exército Vermelho, que desembarcariam em portos peruanos nas costas do Oceano
Pacífico, embarcariam nos trens de alta velocidade operados pela
Tanssouthamerican Shangai Railway Inc.,
implantada com recursos, tecnologia e operação chinesa, mais de um
século antes, com o objetivo explícito de facilitar a movimentação de cargas e
passageiros entre o Oceano Atlântico, os territórios Brasileiro e Peruano e o
Oceano Pacifico, atingindo os continentes da África, Oceania e Ásia, em
particular os portos da China.
A Ministra Baena de Carvalho fora lembrada
de examinar dois documentos secretos assinados pelo Peru, um com a República
Popular da China e outro com o Brasil. O primeiro, por uma demonstração de
amizade do governo peruano para com o governo brasileiro, foi repassado ao
Itamaraty, via a Embaixada do Peru em Brasília. O segundo era assinado
apenas pelos dois países sul - americanos e não fora nunca – ao menos é o que
se esperava – dado conhecer ao governo chinês.
O primeiro desses documentos rezava que a
República do Peru abriria tanto seus portos no Pacífico quanto seu território
para que os trens, fossem de passageiros, fossem de carga, ou que
transportassem funcionários da República Popular da China (aqui o pulo do gato,
pensou a Ministra) desde o mar territorial peruano até as fronteiras do Peru
com a Bolívia e com o Brasil.
O segundo documento, celebrado de forma
ultra confidencial e secreta entre Brasil e Peru facultava a ambos os países,
durante a construção da Ferrovia Bi Oceânica, instalarem ao longo do traçado,
em território de ambos os países, sistemas de segurança e rastreamento de
viagens, particularmente nas regiões andina e amazônica do Peru e em seus
portos do Pacífico e nas regiões amazônica e do cerrado brasileiras e em seus
portos do Atlântico.
Esses sistemas seriam operados por
servidores de ambos os Estados, à revelia e sem conhecimento quer da empresa
operadora quer do governo da então República Popular da China.
Este segundo documento originara-se a
partir de discussões dentro dos Estados Maiores das Forças Armadas e das
Chancelarias de ambos os países, antes e durante o período de negociação e
implantação da Ferrovia, de forma confidencial e ultra secreta, uma vez que a
experiência que tanto o Brasil quanto o Peru passaram em função das escutas
norte americanas em relação a membros dos governos de ambos os países,
servira-lhes de lição para que tais articulações se realizassem fora dos
circuitos normais das relações entre os dois governos.
O começo dessas conversações estava ligado
à lembrança que um dos membros do Ministério de Defesa do Brasil tivera da
leitura de um clássico autor da História Militar, o professor britânico John
Keegan, da Real Academia Militar da Inglaterra, cujo texto foi utilizado no
preâmbulo do tratado secreto como um de seus elementos justificativos.
Afirmava o Professor Keegan que a Guerra da
Secessão Norte Americana era considerada como “uma guerra puramente
ferroviária, na qual o sucesso do Norte em cortar primeiro as conexões férreas
entre o populoso sudeste e o produtivo sudoeste na linha do Mississipi e,
depois, dividir o sistema interno do sudeste, tomando a ligação Chattanoogas – Atlanta
em 1864, fragmentou seu território em zonas que não tinham auto suficiência
econômica e garantir o colapso financeiro da secessão sulista por falta de
suprimentos para os exércitos, ainda que, esfarrapados e famintos, eles
conseguissem desafiar a União no campo de batalha até o fim”(...)”os exércitos
do Norte estavam bem mais alimentados que os do Sul porque seus intendentes
controlavam os 50 mil quilômetros de ferrovias norte-americanas existentes em
1860, e continuaram a colocar mais trilhos a cada mês da guerra, na qual uma
tarefa primordial dos soldados da União era arrancar cada metro de trilho dos
confederados que cruzassem”.
Peru e Brasil, portanto, precisavam
precaver-se exatamente de situações como
as que estavam vivendo naquele momento que precedia a quase certa invasão do
Império Celestial da China ao Território Sul Americano a parir de ambos os
países.
7. BRASÍLIA – Analisando os Tratados Secretos
A Ministra Baena de Carvalho, por um lado,
ficou estarrecida com o que leu nesses documentos secretos. De outro, pela
primeira vez naquele dia via uma pálida e longínqua luminosidade no final do
Túnel a qual poderia não ser a luz da locomotiva do trem na Ferrovia Bi - Oceânica.
Os tratados secretos, criptografados e só
abertos face a presença de um funcionário do Arquivo que era o garantidos das
chaves criptográficas, haviam sido
rigorosamente cumpridos no decorrer desse mais de século, entre 2035 e 2150.
Por eles, Peru e Brasil comprometiam-se a viabilizar e a garantir a
navegabilidade permanente das Hidrovias dos Grandes Cursos de Água da Bacia
Hidrográfica Amazônica em ambos os territórios, a qual deveria servir como
alternativa à movimentação de cargas e passageiros entre os dois países abrindo
o acesso do Atlântico ao Peru, via os portos do Pará e do Pacífico ao Brasil, via acesso aos
portos do rio Solimões e a travessia dos Andes Peruanos.
Um dos artigos do tratado rezava,
explicitamente, que no caso da então República Popular da China financiasse e
operasse a Ferrovia Bi – Oceânica do Atlântico brasileiro ao Pacífico peruano,
os corpos diplomáticos e seus Estados Maiores – quer civis, como seus Conselhos
de Estados, quer militares, como os Estados Maiores das quatro armas: Exército,
Marinha, Aeronáutica e Interplanetária) comprometiam-se a que seus respectivos
governos fossem buscar recursos financeiros junto instituições de fomento de ambos os Estados
ou Internacionais, para a implantação desse sistema Hidroviário bi -oceânico e
bi – nacional..
Outro artigo, ainda, rezava que os Estados
e seus respectivos governos, de ambos os países, garantiriam que nenhum dos dois grandes Impérios
Mundiais, o Norte Americano, consolidado desde o século XX e o Império
Celestial da China, que inicia sua consolidação no decorrer das três primeiras
décadas do século XXI, teria nenhum tipo de participação no financiamento,
implantação, manutenção e operação desse sistema Hidroviário.
Seriam ambos os Estados – Brasil e Peru –
os responsáveis diretos pela implantação, manutenção e operação desse sistema
com embarcações de bandeiras conjuntas peruanas e brasileiras.
Mas o que mais espantara a Ministra foi o
fato de tomar conhecimento que um grupo de engenheiros militares peruanos e
brasileiros instalaram sistemas de segurança e rastreamento ao longo do leito
da Ferrovia e, o mais espantoso, que implantariam dispositivos que, acionados
simultaneamente pelo lado peruano e brasileiro, implodiriam os túneis de
travessia dos Andes, de modo a impedir a passagem de qualquer composição
ferroviária, obstruindo a ligação férrea entre Peru e Brasil.
Este era o elemento central que a mensagem
do Coronel Almeida precisava fazer chegar à Ministra.
8. SÃO PAULO – A hora e a vez do leitor
O autor chegou aonde pretendia chegar – a
montagem do quadro Ficstórico.
A partir daqui deixa à criatividade de cada
leitor o fechamento deste Conto. Para orientar o / a leitor /a, o autor indica
algumas questões que podem – ou não – serem refletidas e respondidas por eles /
elas, tais como:
a) Na tarde do dia 1º de maio o Comitê Central
do Partido Comunista do Império Celestial da China dará a ordem de desencadear
a Operação Nuvens de Gafanhotos de Jade contra o Brasil?
b) O Império Norte Americano conseguirá fazer
a interlocução com os principais países envolvidos nesse Conto Ficstórico?
c) O Papa Sabá I demosntrará que a palavra e o
bom senso valem mais do que Múltiplas Divisões Armadas?
d) Brasil e Peru terão tempo de implodir os
túneis de travessia dos Andes antes que os Trens a Transsouthamerican Shangai
Railway Inc. embarquem as tropas desembarcadas dos porta aviões e iniciem seu
deslocamento em direção ao território brasileiro?
e) As demais potências como a Rússia. Índia,
União Europeia, Japão e o conjunto das demais nações do mundo manter-se-ão
caladas frente a esses acontecimentos?
COM A
PALAVRA – E A IMAGINAÇÃO – DA LEITORA / DO LEITOR
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